Quando leio isto sinto medo. A impotência na defesa perante os outros, à mercê da vontade de saber e da natureza humana. Quando leio isto recordo os telefones com os grampos, lembro-me de desligarmos quando ouvíamos o ruído metálico, recordo-o a olhar pela janela a ver a carrinha estacionada à nossa porta, de nos entrarem em casa em busca de papéis, os papéis todos espalhados no chão, e o que recordo mais vivamente, a vez em que a janela estava aberta e todos garantimos quando chegámos a casa que ninguém a tinha deixado assim. E contudo, apesar do passado, diria que a noção de segurança é uma coisa inata em mim, recentemente tive de aprender regras básicas como fechar sempre a porta à chave. Mas o que eu tenho medo, é do assalto à privacidade, do terrorismo íntimo, e por muitas voltas à chave que dê, nunca saber se é suficiente.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES