Dez minutos na Rua Augusta a ver dois executivos a gamarem postais numa loja de souvenirs. As minhas horas de almoço são melhores que as vossas noites.
Mais histórias de mercados.
O mercado negro emotivo não difere do económico. Em regra é mais barato, mas raramente é original e há uma forte probabilidade de ter sido furtado.
O comerciante não tem personalidade, tem comércio; a sua personalidade deve estar subordinada como comerciante, ao seu comércio; e o seu comércio está fatalmente subordinado ao seu mercado, isto é, ao público que o fará comércio e não brincadeira de crianças com escritório e escrita.
Fernando Pessoa, Teoria e Prática do Comércio
Praga da Figueira, 1885
Se me pedirem para escolher o mercado mais bonito de Lisboa, não hesito a dar a resposta. É o mercado da Praça da Figueira. Demolido em 1949, foi com assombro que o descobri em plena adolescência numa gravura. Sei na ponta da língua a história do mercado. Recentemente juraram-me que depois de desmatelado tinha seguido para África mas nunca consegui verificar essa informação. Se existem muitas vidas, tenho a certeza que numa anterior andei por aqui, provavelmente a comprar um coelho para o arroz de cabidela. O mercado começou por ser a céu aberto, passou por várias remodelações, da luz eléctrica e arborização à estrutura de ferro com gradeamento e oito portas. Nos Santos Populares transformava-se num autêntico teatro. Era aqui a grande festa, vinham pessoas de todo o lado.
Mercado da Praça da Figueira, talhos e salsicharias em sábado de Aleluia, 1907
“(Maria Eduarda) viera indignada da Praça da Figueira, quase com ideias de vingança,
por ter visto nas tendas dos galinheiros, aves e coelhos apinhados em cestos, sofrendo (…)
as torturas da imobilidade e a ansiedade da fome.”
Eça de Queirós, Os Maias
Pediram-me textos sobre mercados e eu estou aqui a matutar onde é que hei-de ir amanhã cedo comprar umas cenouras para inspirar-me.
a minha língua é a pátria portuguesa
coisas extraordinárias do gabinete
grandes crimes sem consequência
pequenas ficções sem consequência
LEITURAS
Agora e na hora da nossa morte - Susana Moreira Marques
Caixa para pensar – Manuel Carmo
Night train to Lisbon – Pascal Mercier
CIDADES