Sábado, 02.06.12
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Quarta-feira, 20.07.11

 

Rodo o globo várias vezes, percorro mapas, comparo latitudes e valores, espeto o dedo ao calhas no mundo. Tenho tempo, dinheiro e vontade. Posso ir a qualquer sítio dos cinco continentes, com alguns constrangimentos é certo, como a data para regressar, mas ainda assim diria que é uma oportunidade rara. Vasculho tudo, e depois viro-me do avesso também. Na verdade, quando tudo é possível, resta-nos a escolha do nosso desejo mais sincero.

Quando vi o nome no mapa não hesitei mais. A escolha recaiu na única cidade do mundo que habita dois continentes. Há um motivo muito forte para ter sido a eleita, há dois anos que escrevo um texto em que parte da acção está ligada a esta cidade que nunca percorri. Vejo fotografias, mergulho na história, nas guerras, nas mudanças de nome, nas datas, aprendo palavras estranhas que tenho de escrever num caderno sob pena de não as decorar. Decido. Os planos transformam-se em objectivos.

Por último, esta viagem fecha um ciclo, o das cidades das sete colinas. Depois de Lisboa – cidade-partida eterna em mim –, e Roma, onde me perdi ao tentar encontrar  o regresso, viajo em direcção à última cidade. Em tempos foi chamada de Cidade das Sete Colinas, Nova Roma e também Porta para a Felicidade, o que não deixa de ser um bom presságio para a minha viagem maior. 


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publicado por afonso ferreira às 23:41 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sexta-feira, 21.01.11

 

... pelo Brasil à boleia do Atlântico-Sul. Depois de Roma as agulhas apontam para o Rio de Janeiro, enquanto não embarco faço a viagem pelas palavras.


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Terça-feira, 04.01.11

 

Passeie pelas praças, entre em todas as igrejas, atravesse as pontes, atire moedas na fonte e peça desejos, beba grappa, substitua as palavras escritas pelas sussurradas, troque os livros pela arte, perca o norte e o sul nas ruas e pela noite dentro.


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Quarta-feira, 29.12.10

 

O que me salva são as viagens no eléctrico. Esta tarde ao tornear as colinas em profunda melancolia pegajosa e na tentativa falhada de chegar a uma decisão, uma ideia surgiu – pedir uma cidade emprestada para conquistar novas perspectivas. Este blog vai trocar Lisboa por Roma e iniciar o ano novo a brindar com os romanos.


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Domingo, 26.09.10

Não tenho uma grande explicação para o facto, mas existe em mim uma tendência para associar os meus melhores dias à quantidade de viagens realizadas. Uma conta de somar estranha, mas ainda assim não prescindo dessa contabilidade. Hoje foi um dia bom. Viajei num barco, três carros com condutores distintos e um taxista eficiente que ajudou-me a encontrar um destino.


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publicado por afonso ferreira às 23:30 | link do post | comentar | ver comentários (4)

Sábado, 21.08.10

... é um intervalo de mar.


Ilha do Sal, fotografia de c. henrique


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publicado por afonso ferreira às 22:52 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Quarta-feira, 18.08.10

 

Todo o paraíso justifica o seu inferno. Por baixo do céu sem nuvens e das águas cristalinas vive o inspector da judiciária com o cigarro pendurado a queimar o bigode à caça dos pássaros-correio na rota do país irmão. Entre os fundos de malas e o aeroporto vai colocando pássaros raros na gaiola. Neste inferno aquático há naufrágios e chamas no fundo do mar. De escafandro e bomba de oxigénio descem com regras precisas velhos sonhos do passado. O instrutor sonha com o mundo perfeito enquanto aproxima-se do fundo do paraíso – câmaras de gás, tortura psicológica e as cabras que estoirou com a G3 na outra ilha. Que holocausto? perguntavam os que não venceram a guerra e ele dava a resposta certa como cão de fila bem treinado. Por momentos a revolução não aconteceu, as colónias vivem na palma da sua mão. Eu não tenho dúvidas, não fossem as espingardas com cravos estaria atrás das grades a viver o sonho deste homem. No inferno construíram o ghetto, o bairro de lata enferrujado que julguei abandonado. Das chapas retorcidas nem um som. Mas timidamente crianças saem à rua a acenar, há roupa estendida ao vento à espera do sol, vejo fumo numa chaminé. Um bairro com ruas e chapas de zinco cravado no meu próprio inferno privado. No inferno pode-se contar com cortes de luz e falta de água potável. Não existem hospitais nem universidades. Há ameaças várias e meninas abandonadas que vão parir às outras ilhas. No paraíso com pés de chumbo um bom passaporte para voar é seduzir uma mulher ocidental incauta. Ao jantar o homem importante é o centro da mesa. Ouvimos com esforço, há festa no palco. O homem importante fala muito e conta histórias diversas. Faz pausas no discurso, como um apresentador de espectáculo, para arrebitar a curiosidade e criar suspense. Conta a ameaça de morte que recebeu abrindo a camisa e desafiando a cortarem quatro cabeças em vez de uma. Fala das tempestades de areia que obrigam a isolar tudo até à última frincha e da exportação de tornados e emigrantes. O homem importante enfrenta ameaças de morte mas não prescinde da pulseira tucson em prol do equilíbrio pessoal. 


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publicado por afonso ferreira às 13:19 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Terça-feira, 17.08.10

 

Mal colocamos um pé na ilha somos abordados pela diversidade da vida animal. Começamos nas baratas gordas com dez centímetros que tropeçamos amiúde. Na praia os lagartos cruzam os nossos pés. Há cães e gatos por todo o lado, nunca os tinha visto tão amistosos. Contam-me, na noite em que chego, que um estranho fenómeno sem explicação acontece com frequência – ninhadas de gatos paraplégicos. Há tartarugas gigantes no mar e atuns de quatro metros a serem esquartejados no pontão. Na água há golfinhos, baleias e peixes roxos. Na paisagem as garças recortam a paisagem. Esvoaçam uns estranhos passarinhos, aparentados de pardais, a saltitarem por todo o lado. Toda a viagem é composta pela demanda do momento em que olvidamos tudo. Se não fosse essa procura não teríamos muitos motivos para andar pela terra. Esse momento aconteceu hoje. Por uns longos segundos, esqueci-me do ontem, do hoje e do amanhã, no momento exacto em que dentro de água avistei o corpo de um tubarão de dois metros demasiado perto para a minha segurança física. Bastou-me ver o dorso e fazer uma medição rápida da distância entre uma barbatana e outra para ter uma ideia aproximada do porte do animal. De uma assentada tive o meu momento e compreendi o coelho encadeado pelos faróis na estrada. 


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publicado por afonso ferreira às 23:23 | link do post | comentar | ver comentários (1)

Domingo, 15.08.10

 

Atravessamos a ilha e subitamente o mar dá lugar a uma paisagem lunar, árida, dura, compacta. Dizem-me que são frequentes as miragens. Eu não percebo. Ou melhor, compreendo o significado da palavra mas não entendo que visão se possa ter ali. O que vejo é esta realidade. A terra a estalar, esta força de castanho e cinzento, este céu imenso, esmagador. O estrago de um vulcão em forma de terra, uma terra que não vê chover quase há um ano, esta tão real, onde assento os pés agora. Avançamos na paisagem em direcção ao mar, paramos, olhamos para trás. A terra estéril transforma-se num lago de boas proporções. Parece um feitiço, um acto sobrenatural. Mesmo consciente que assisto a um fenómeno óptico, o meu espanto sobrevive. Dou uso aos binóculos e ainda é mais extraordinário. Uma miragem ampliada mas exacta, a zombar de mim. Segundos depois é um tornado ao longe. Quando considero se será também miragem, eis que se torna demasiado real. Nesta ilha a fronteira entre o céu e a terra esbate-se a um só compasso como se ser um brinquedo de deus fosse a sua essência.


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publicado por afonso ferreira às 17:25 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sábado, 14.08.10

 

Conseguiria eu escrever literatura de viagem? Talvez, mas seria um fracasso. Se viajo interessa-me o particular, muitas vezes invisível. Não ser visível não é um acaso - ninguém querer saber costuma ser o motivo mais frequente. Para escrever teria de fingir, olhar para o concreto, alinhar palavras numa luta comigo próprio, sempre a aplacar o desejo de as baralhar. Trago comigo imagens, considerações, conselhos e recomendações alheias. Falaram-me do desleixo da terra, as carcaças no mar, a probreza a abanar ao vento. Chego à ilha e viajo em estradas novas, bem sinalizadas, os traços e linhas visíveis na escuridão. A recepção do hotel transpira conforto e modernidade. Tudo pronto, rápido, eficiente. No bungalow repete-se o mesmo cenário. Conforto, modernidade e - arrisco - design, essa palavra que empesta sem clemência o mundo moderno. Dizem-me que África tem três velocidades - lento, muito lento ou parado. Ando na rua e observo as pessoas a trabalhar - eficientes, seguras, simpáticas. Afinal, que velocidade é esta que desconheço no meu próprio país?


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publicado por afonso ferreira às 15:03 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Sexta-feira, 13.08.10

 

Foi necessário um carro, um reboque, três taxis, uma viagem de comboio, outra de metro e apanhar um avião para chegar à Ilha do Sal. Quando aterro na ilha é noite adiantada. Perco-me em fusos horários. Não sei se as horas fugiram para a frente ou andaram às arrecuas. O aeroporto é pequeno e é necessário verficar vistos e passaportes. Liberto das burocracias, recolho a bagagem e atravesso o edifício. Preparo-me para ser atingido pelo cheiro lendário de África. Aquele que garantem-me que uma vez sentido é impossível esquecer. O cheiro das saudades de muitos, tantas e tantas vezes descrito aos meus ouvidos atentos. Exterior do aeroporto, inspiro profundamente, fecho os olhos. Outra vez. Tento descodificar a profundidade do que cheiro. Nada. Absolutamente nada. A Ilha do Sal não cheira a coisa nenhuma.


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publicado por afonso ferreira às 18:59 | link do post | comentar | ver comentários (2)

O painel electrónico na carruagem acusa 39º no exterior. Atravesso o país em direcção ao norte e vejo terras, casas, povoações, vidas e apeadeiros. Aqui dentro também está calor. 25º, mais precisamente, segundo o painel. Seguimos a 223 km/h. No jornal vejo o mundo. Tony Judt morreu no pior tipo de prisão domiciliária - esclerose lateral amiotrófica. Descubro o terceiro sexo no México - os muxes. Faço os últimos telefonemas. Sabe-me bem estar só por umas horas. Pela janela, o mundo inteiro. Um pinhal a arder. Quatros crianças a brincar aos piratas. Pela janela, tantas janelas.


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publicado por afonso ferreira às 00:51 | link do post | comentar | ver comentários (3)

Quinta-feira, 12.08.10

A minha viagem à Ilha do Sal começa no sul num domingo que deveria ser sereno mas acordo com a cabeça prestes a explodir. No sul o céu está encoberto e eu sinto uma faca espetada na cabeça, bichos alados no estômago e um sono que me invade. Ainda assim vou à vila, atravesso a ria, vejo o mar. Um domingo fosco, a neblina que sinto contaminou tudo. Na ponte tiramos fotografias, faço-te a vontade, não te digo que as imagens serão em vão, apetece-me ter faróis de nevoeiro no corpo. No regresso à capital o kilómetro 207 revela-se fatal. O quatro rodas recusa-se a prosseguir. Chamamos o reboque e depois de alguma espera e peripécias várias chegamos à cidade. Por esta altura juntou-se a febre ao festim dos outros sintomas. O meu companheiro de viagem aposta numas ostras partilhadas com vista para a ria como causa para tanto mal-estar. Eu acuso todo o mal do mundo, a crise económica e a silly season. Na realidade estou sem capacidade de análise. Com o cair da noite volto lentamente a mim, a névoa dissipa-se.



publicado por afonso ferreira às 17:08 | link do post | comentar | ver comentários (2)

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